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segunda-feira, 10 de março de 2014

Natal terá menos escolas para EJA

No RN, em 2012, o número de alunos matriculados no EJA foi de 38.592. Ano passado caiu para 37.897
Como consequência do visível desinteresse por parte dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a Secretaria de Educação de Natal, neste ano, diminuiu o número de escolas que farão parte do sistema.

Em 2014 serão 25 unidades da rede municipal, enquanto 28 foram disponibilizadas no ano passado. Mas segundo Ednice Peixoto, da SME, não haverá dano aos estudantes. “Em uma escola, a situação chegou ao ponto de uma turma que começou com 20 alunos terminar com um. Este ano, quando começaram os movimentos de matrícula, não houve demanda considerável. Então, os poucos alunos que se matricularam foram transferidos para uma escola próxima. Não deixamos de atender aos alunos”, relatou a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da SME.
Júnior SantosNo RN, em 2012, o número de alunos matriculados no EJA foi de 38.592. Ano passado caiu para 37.897

O mesmo ocorreu com o Estado, que possui 287 escolas com oferta de EJA. O problema é a queda gradual da demanda. Em 2012 foram 38.592 alunos matriculados em turmas de EJA, mas no ano seguinte o número caiu para 37.897. Segundo o coordenador das Diretorias Regionais de Educação (Direds), Eduardo Colin, a queda na procura provoca um reordenamento na rede.

“Em muitas escolas o número mínimo de alunos [20, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB] não é alcançado e a Secretaria avalia se a turma pode ou não permanecer. Dependendo, podemos manter, remanejar a turma para outra unidade ou podemos mandar esses alunos para o ensino regular, dependendo da idade”, explicou.

Segundo Colin, a queda é em todo o país. Desde o início do Censo Escolar e com a evolução no processo de levantamento de dados, as estatísticas de matrículas caem. Ele afirma que começaram a ser detectados alunos com matrículas duplas ou casos de “estudantes fantasmas” dentro das escolas.

No caso do Rio Grande do Norte o SIGEduc, implantado já para as matrículas deste ano, trará mais realidade aos dados. “Não estamos desativando, mas sim remanejando turmas e concentrando-as em escolas próximas entre si. Isso economiza recursos porque mais turmas funcionando, mais recursos e maior a necessidade de professores. Não temos interesse de fechar turmas, só não podemos mante-las sem condições de serem mantidas”, enfatizou Colin.

Estado não possui dados de evasão
Não há dados oficiais sobre a evasão ou reprovação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) a nível estadual. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seec) em busca desses números, contudo, o coordenador das Diretorias Regionais de Educação (Direds), Eduardo Colin, afirmou que não há estatísticas.

“Não há controle sobre a evasão atualmente, porque retiramos as informações do Censo Escolar e o MEC não repassa esses números. Só com o SIGEduc [Sistema Integrado de Educação] será possível, mas como ele foi implantado neste ano, só teremos o dado no ano que vem”, admitiu.

Mesmo sem números oficiais, os educadores da rede estadual que atuam na EJA confirmam o alto índice de evasão dentro de sala de aula. É o que diz a professora de Geografia Morgana Jales da Costa, 48 anos, que atua no sistema há pelo menos quatro anos e leciona na Escola Estadual Soldado Luiz Gonzaga, no bairro de Nossa Senhora de Nazaré.

“A evasão é grande e a queda na demanda também. Começamos com aulas lotadas, e percebemos os alunos desestimulados ao longo do tempo por não conciliarem as aulas com o trabalho. Já antes do ano letivo temos que ir anunciando em carro de som, de ‘boca a boca’ mesmo para chamar os alunos”, relata a educadora.

Uma grande reclamação é que a grade de ensino muda frequentemente e atualmente não sobra tempo para planejar as aulas. “Não há estímulo para os alunos e nós. Queremos atualização, treinamento e não temos. Nas aulas à noite [horário da EJA], não temos acompanhamento de outros profissionais, como bibliotecários ou laboratórios de informática. Ficamos sozinhos. Sem estímulo, as salas começam com 40 alunos e terminam com 10 ou 15. É geral”, criticou Morgana.

Quanto à falta de capacitação para os professores, o educador Benedito Holanda, 39, que atua em História, concorda. Ele trabalhou por sete anos na EJA e diz que desde 2006 não tem atualização na área. Entre 2000 e 2009, o professor atuou em Serrinha dos Pintos, a 367 quilômetros de Natal, e afirmou que no interior é mais difícil trabalhar.

“A assistência é pior. A gente ia inventando a passagem do conteúdo aos alunos de acordo com o que achávamos. A questão da evasão era pior ainda. De 40 alunos que tínhamos, caia para menos de dez”, lembrou.

Quanto à questão da falta de capacitação por parte de seus professores, a Seec nega a informação. Eduardo Colin afirma que cursos especializantes são oferecidos regularmente aos professores, mas que geralmente a presença “fica a desejar” por parte da categoria.

“Para se manter a EJA, é preciso que sua proposta seja redesenhada”
bate-papo Cláudia Santa Rosa - mestre e doutora em Educação
Alberto LeandroCláudia Santa Rosa, mestre e doutora em EducaçãoCláudia Santa Rosa, mestre e doutora em Educação

Qual a proposta da EJA quando foi criada?
A EJA chegou como uma modalidade de ensino para suprir uma deficiência da própria educação. Porque se pensarmos que estão nessa modalidade pessoas que não tiveram acesso à escola na época certa, não foram alfabetização na época certa ou até abandonou a escola sem concluir a escolaridade, então a EJA chega para atender a uma diversidade.

Desde sua criação até hoje, a EJA sempre foi cumprida da forma idealizada?
As secretarias de educação todas estruturaram seus setores para a EJA, porém não podemos afirmar que é uma modalidade que está cumprindo de forma eficaz 100% os objetivos que justificaram sua criação. Sabemos que a educação possui deficiências até mesmo nas etapas convencionais da educação básica, imagine a EJA. Tem outra questão séria que é a evasão, muito alta nesta modalidade. São muitos os alunos que se matriculam e com poucos meses ou mesmo semanas abandonam.

Falta maior atenção para a EJA? Há solução para que se cumpra a proposta dessa modalidade?
A gente tem que entender o EJA como uma proposta com tempo para acabar. Por que? Porque a EJA chega justamente pela fragilidade do sistema do Estado Brasileiro em relação a educação de sua população. Enquanto não oferecermos uma escola básica de qualidade, que consiga matricular e manter seus alunos com perspectiva de sucesso escolar, teremos a EJA. Primeiro é preciso investir na educação infantil, ensino fundamental e médio. Para se manter a EJA, é preciso que sua proposta seja redesenhada: o currículo, o projeto pedagógico, é preciso fazer uma relação com a profissionalização, num contexto de cursos para manter o aluno na escola e é preciso ouvir as necessidades desse público alvo da EJA.

Por esse cenário apresentado, presumo que a avaliação da EJA atualmente não seja nada boa. É isso?
Na minha avaliação sim, porque se tivesse bem não teríamos os números que temos de evasão. Esses alunos se matriculariam e permaneceriam na EJA para manter seus estudos. Mas particularmente eu preferiria não pensar na necessidade da EJA porque pensarmos na necessidade dessa modalidade é assinarmos nossa carta de incompetência em relação à educação básica regular. São pessoas que não cursaram a alfabetização regular e por algum motivo que seja procuram a EJA. Como educadora, gostaria que não precisássemos dela.

Via Tribuna do Norte

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